17 outubro, 2008

Cada um com seu Ipod

“Cada um vive em um bunker de indiferença” - Gilles Lipovetsky.

Me impressiono, quando estou andando pelas ruas, com o número de pessoas que caminham por aí com fones nas orelhas. Parecem zumbis: olhar perdido, semblante apático; não interagem, não reagem, sei lá…

De fato, diante da enxurrada de informação que nossos downloads são capazes de pescar, faz-se necessário um aparelhinho capaz de armazenar isso tudo e, de preferência, que seja bonitinho, compacto, simpático… Se for a última moda tecnológica do planeta, melhor ainda!

Afinal, informação é tudo… Basta olhar pros donos do mercado desse milênio: Google, CNN, Microsoft, Apple (com seu Ipod, Itune, Iphone)...

Nos anos 70, o capitalismo percebeu a necessidade de desenvolver uma cultura global. Afinal de contas, pelo fato do modelo pós industrial privilegiar a informação e os serviços, a industria cultural seria então um grande meio de difusão dos valores e idéias do voraz sistema. Com essa tal cultura globalizada, através da fragmentação da produção cultural subsequente, seria possível incluir todas as culturas como mercados consumidores. E, com a desreferenciação do sujeito frente a sua cultura-mãe, o carinha poderia se dedicar ($$) mais às coisas próprias da nova ordem mundial. Meio que trocar a carne seca com aipim por um McLanche com batata grande.

A eficácia desse processo atinge não só mercados, mas a sociedade, sua célula e seu núcleo celular, a saber, a família e o indivíduo.

Bem, o fruto disso tudo é um alguém que perdeu sua referência. O alguém em questão tem hoje - com a internet, satélites e celulares - o maxímo em informação e o que há de melhor em tecnologia; porém não sabe lidar consigo mesmo e, muito menos, com o outro. Diante de tanto material e informação, é incapaz de fazer um juízo do que lhe é oferecido. Debruça-se sobre seu leito democrático e, sem saber como lidar com tanta liberdade, se tranca, amedrontado, dentro de seus pequenos apetrechos tecnológicos. Medo gerado pela ausência do senso de sociedade.

Incapaz de experimentar a alteridade, o indivíduo hightech, no seu isolamento, vai cada vez mais se minimizando, se miniaturizando. Tudo torna-se pequeno, sem grandeza; sua alegria reside no último lançamento que acabou de chegar às lojas. Seu desejo é miniaturizado: suas micro-aspirações se satisfazem com micro-objetos.

Os fones de ouvido do mp3 player tornam-se, então, a atmosfera de mundos singulares, de vidas isoladas da possibilidade do outro. Um mundo digital cerca os solitários donos desses aparelhos; um mundo que tem muito a oferecer, que não exige questionamento e que, para isso, entrega tudo já ruminado. Uma sabedoria virtual, um conhecimento não experimentado.

Uma alienação reconfortante... e sem culpa!

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